• abril 25, 2024
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Saúde e gestão

Saúde e gestão

Médico ressalta a importância da relação entre tratamento de pacientes e as estratégias para administrar recursos na melhoria da vida da população

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Felipe Mendes, neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (Foto Ana Slika)

A medicina passa por grandes transformações e a gestão eficiente em saúde para enfrentar os complexos desafios do setor nunca foi tão crucial.

Nesta entrevista ao CIDADE CONECTA, o neurocirurgião, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, que recentemente concluiu um MBA em Gestão em Saúde, fala sobre a relação entre tratamento de pacientes e as estratégias para a gestão de recursos em serviços de saúde para melhorar a vida da população.

Você acaba de concluir um MBA executivo com foco em gestão de saúde e outro com foco em finanças. O que o motivou a buscar essa formação complementar à sua carreira médica?

A possibilidade de impacto significativo somente com o meu trabalho como médico assistencial é, de certa forma, limitada. Por ser um trabalho quase artesanal, não é possível escalar. Contudo, ao desenvolver uma rede de atendimento organizada, com maior capilaridade, onde existem vários profissionais unidos em torno de um propósito comum, com processos bem alinhados, a possibilidade de mudança estrutural com garantia de acesso mais amplo e de qualidade torna-se muito maior. Como cirurgião de coluna, espanta-me saber que, embora as dores nas costas sejam a causa número um de afastamento por incapacidade e uma das queixas mais prevalentes em consultas, não existe nenhum projeto bem desenhado e estruturado, seja público ou privado, para lidar com essa questão. Dessa forma, além da vivência prática, percebi que era fundamental buscar uma formação sólida em outros setores para contribuir com soluções inovadoras para a saúde, elevando o padrão de cuidado ao paciente e a eficiência organizacional.

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Em sua opinião, quais são os principais desafios enfrentados pelos gestores de saúde no Brasil, tanto no setor público quanto no privado?

O setor da saúde é complexo e não é fácil de ser administrado. Com o envelhecimento, as doenças tornam-se mais prevalentes e demanda de cuidados aumenta. A burocracia, a falta de confiança entre as partes envolvidas (prestadores de serviços e operadoras de saúde), custos crescentes com materiais e equipamentos, ausência de programas de valorização dos colaboradores, tabelas sem reajustes e falta de investimentos planejados com foco em prevenção são alguns dos problemas que tornam o panorama da saúde tão desafiador.

A partir de sua experiência, como a formação em gestão pode impactar a qualidade do atendimento e a eficiência dos serviços de saúde?

Um estudo da Associação Nacional de Hospitais Privados aponta, sem novidades, que a gestão eficiente é crucial para a sustentabilidade do setor. Reorganizar um sistema apenas cortando custos, sem se preocupar com a experiência do usuário e com o bem-estar do colaborador é simples. Agora, fazer um projeto no qual existe controle e planejamento financeiro adequados, com processos de melhoria na atenção, no cuidado e na experiência do cliente, aliado a um programa que se preocupa com o colaborador, trazendo, dessa forma, uma plataforma de atendimento de excelência, resolutiva e eficiente é o cenário ideal. Isso só é possível com muitos estudos, dedicação e apoio da comunidade, além de buscar inspirações com outros gestores que já passaram por situações semelhantes.

O sr. acredita que a integração entre a prática médica e os conhecimentos de gestão pode levar a uma melhor coordenação dos cuidados de saúde? Poderia nos dar um exemplo?

Percebo muitas semelhanças entre o trabalho de um médico assistencial e um gestor. Imagine, por exemplo, quando alguém procura um médico por algum problema de saúde. O médico escuta o problema, avalia e solicita exames para confirmar o diagnóstico para, então, propor o tratamento. No campo da gestão, não é diferente. O gestor realiza todas essas mesmas etapas para propor a melhor solução para o seu negócio. Cito, como exemplo, o serviço de Neurocirurgia do Hospital Municipal de Sete Lagoas que ajudei a estruturar. Como atuava na prática assistencial, eu sabia de todos os problemas e limitações. Se fosse apenas um gestor distante da realidade prática, poderia haver momentos em que não teria a percepção adequada dos problemas. Existe um conceito – iceberg da ignorância – às vezes, o gestor está tão distante da realidade do trabalho de seus colaboradores que começa a perder a percepção do seu negócio. Isso ajudou o nosso serviço a se desenvolver, saindo de 60 cirurgias por ano para 60 a 80 cirurgias por mês, além de mais de 200 consultas, levando uma estrutura de atendimento de qualidade e resolutiva para uma população-alvo de mais de 500 mil habitantes.